Hipótese



No mundo atual, o conceito recorrente de commons discorre sobre a ideia de que a produção da riqueza e a vida social são fortemente dependentes de comunicação, cooperação, afeto e criatividade coletiva. O “comum” seria, então, aqueles meios de recursos compartilhados, que são gerados pela participação do muitos e múltiplos, que constituem, alguns diriam, o tecido produtivo essencial da metrópole do século 21. Se fizermos essa conexão entre comum e produção, temos que pensar em economia política: poder, as rendas e os conflitos.

O comum pode ser definido por ser compartilhado por todos, sem tornar-se privado para qualquer autor individual ou instituição. Comum (ou bens comuns) incluem recursos naturais, espaços públicos urbanos, obras criativas, e os conhecimentos que estão isentos de direitos autorais. Em Atenas, Istambul ou Rio de Janeiro, como em muitas cidades globais, as discussões em torno do bem comum têm sido relevantes, especialmente com a crescente pressão da privatização e controle dos governos sobre os recursos compartilhados da comunidade.

As perguntas, então, seriam: pode o bem comum nos fornecer conceitos e táticas alternativas ao poder dominante, para uma sociedade mais democrática, tolerante e heterogênea, que permita maior participação e coletividade? Podemos abrir as diferentes definições de comum (ou bem comum)? Existem diferentes formas de compreender e discutir o bem comum através de várias práticas? Devido à nossa tradição do privado e do público, da propriedade e do individualismo, os bens comuns ainda são difíceis de ver para os nossos olhos de final do século 20.

Propomos, portanto, uma busca pelo bem comum, uma pesquisa que toma a forma de um processo de mapeamento. Entendemos mapeamento, como proposto por Deleuze e Guattari, e como artistas e ativistas sociais têm vindo a utilizar durante a última década, como uma performance que pode tornar-se uma reflexão, uma obra de arte, uma ação social.

Pode o comum ser mapeado? Qual é a riqueza comum da metrópole contemporânea e como ela pode ser localizada? Como o comum está sendo protegido das privatizações e das parcerias público-privadas do neoliberalismo totalitário? Que novas práticas de “fazer comum” surgiram no ciclo de lutas que começou em junho no Brasil nas revoltas pelo passe livre? Quais são as vantagens e os riscos da produção desta cartografia em tempos de crise e rebeliões?